quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Idolos Equivocados


Há ocasiões que não encontramos explicações reais para certos acontecimentos, usando somente nosso lado racional, principalmente através de cenas que vemos diariamente, geralmente através dos meios de comunicação de massa e que envolvem a admiração e o fascínio que algumas pessoas cultivam por determinadas figuras. Quando se anuncia a morte de uma celebridade qualquer, seja lá onde for, a imprensa sensacionalista trata logo de mostrar a estranha e fantasiosa reação e comoção popular, envolvendo os chamados fãs.
      Acho muito estranho e doentio o fascínio que algumas pessoas nutrem por aqueles que a grande mídia chama de “celebridades” com as quais não convive, não conhece, nunca conversou e jamais terá uma chance de se aproximar. Esse estranho fascínio está presente em sua grande maioria em jovens na faixa etária que vai dos 13 até os 25 anos de idade, mas está presente também, numa escala bem menor, em pessoas de idade mais avançada.
      Durante esta semana quando a imprensa anunciava a morte da cantora americana Whitney Houston, percebia-se claramente a reação dos fãs, que agiam como se tivessem perdido alguém da própria família. Quem não se lembra da reação dos fãs quando da morte do cantor Michael Jackson? Uma verdadeira histeria coletiva pelo mundo afora! A esse fenômeno, que a ciência tenta entender, dá-se o nome de “idolatria” ou simplesmente de culto a ídolos, geralmente criados através de imagens projetadas pela mídia.
      Há que se compreender, entretanto, a diferença que existe entre a imagem e o ídolo, já que a idolatria se inicia a partir da imagem, quando a mídia, por diversos meios, começa a “promover” um determinado elemento ou evento, no sentido de fazer com que as pessoas iniciem o processo de admiração e cultuação, até chegar à idolatria. Podemos citar como exemplos o caso da apresentadora Xuxa, celebridade inventada pela mídia, que segundo críticos do setor artístico, serviu para imbecilizar a infância de muita gente e que por conta da “promoção” estimulada por uma renomada rede televisiva, acabou por se transformar em celebridade, logicamente “fabricada”, e o falecido cantor Michael Jackson, que foi uma das figuras mais projetadas pela mídia internacional ao mesmo tempo genial, misteriosa, inovadora, assustadora, ora cantor, ora monstro, hora homem, hora mulher, que hipnotizou e encantou tantos fãs, a ponto de gerar verdadeiras histerias coletivas em suas apresentações pelo mundo. Os dois casos se enquadram perfeitamente no conceito de “construção de ídolos” por intermédio de extensas e vultosas campanhas de marketing que visam promover o ser humano e transformar pessoas comuns em verdadeiros deuses do imaginário popular.
      "Um ídolo é alguém em quem projetamos o que gostaríamos de ser. Marca a passagem da infância para a adolescência, momento em que estamos moldando a nossa individualidade", acrescenta o professor de Psicologia da Adolescência da PUC-SP, Miguel Perozza. Os dicionários definem fã como sendo uma pessoa que tem grande admiração por artistas ou figuras populares, ou simplesmente como admirador.
       Os evangélicos acusam os católicos de idolatrarem figuras caracterizadas por imagens colocadas nas igrejas e que representam os santos e as figuras bíblicas, enquanto a igreja católica faz questão de esclarecer que imagem não é o mesmo que ídolo. Chama-se ídolo: uma imagem falsa, um simulacro a que se atribui vida própria, conforme explica o profeta Habacuc (2, 18), assim sendo, as imagens postas nas igrejas católicas representam apenas o “simbolismo” da fé e não ensejam idolatria.
     Alguns observadores acham que a indústria do entretenimento tem sido a grande responsável pela enorme fabricação de ídolos e alimentação do fanatismo, já outros acham que, ao contrário, os fabricantes se aproveitam da idolatria para “empurrar” seus produtos, feitos especialmente para atender o segmento.
      Passar horas em uma fila para comprar ingressos de shows e outros eventos, colecionar suvenires, revistas, pôsteres, fotos, álbuns e outras bugigangas, ficar na porta dos hotéis, viajar quilômetros sem conforto, dormir ao relento, tudo com o objetivo de cultuar ídolos, são características que indicam fanatismo. No Brasil comemoramos Halloween, uma festa inventada pelos norte americanos, com festas à fantasia e transformamos “sobreviventes” do Big Brother em heróis, em atitudes pouco racionais. Muitos jovens se enveredam na idolatria a seus astros, procurando conduzir suas vidas da mesma forma que a deles, espelhando-se muitas vezes em péssimos exemplos na busca da afirmação pessoal e na formação da personalidade.
      Alguns Médicos americanos concluíram através de pesquisa que cerca de um terço da população mundial sofre da chamada Síndrome do Culto à Celebridade e que existem três fases dessa obsessão: Na primeira e mais inofensiva, está os que acompanham os ídolos “por puro entretenimento”; no segundo grupo, onde se encontram os já viciados, entram todos os que se consideram “amigos” dos ídolos, sofrem com suas perdas e deliram com suas conquistas. Já no terceiro grupo, onde estão aqueles que sofrem as conseqüências da Síndrome do Culto à Celebridade, entram os tietes que topam qualquer coisa em nome de seus heróis, inclusive arriscarem a própria vida ou a de terceiros em nome da idolatria. Nesse caso, segundo os especialistas, a brincadeira já se transformou em doença que necessita ser tratada.
      Finalmente cabe questionar se em nossas vidas precisamos de “espelhos” para nos firmarmos como seres humanos e se realmente necessitamos desses ídolos equivocados para dar sentido à nossa existência. No fundo, fixar-se em alguém que não passa de uma figura representativa, para muitas pessoas tem o objetivo de promover a sobrevivência e dar significado à própria vida, infelizmente, da pior maneira.

Autor: Francisco Ricci – Economista  - também publicado em “ricciopinião.blogspot.com” 
Artigo publicado na coluna enfoque Opinião do jornal Enfoque Regional em 18/02/2012.

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